Dia Internacional da Felicidade: especialistas explicam se existe receita para ser feliz
A constante busca pela felicidade pode ser algo ruim, alertam pesquisadores. Segundo Wander Pereira, da Universidade de Brasília, ‘felicidade é um empreendimento coletivo’.
Por Ana Clara Alves, g1 DF
Felicidade contagiante no desfile do Boitatá — Foto: Fernando Maia/Riotur
O que é felicidade? Como sentir felicidade? Esses são questionamentos que ecoam na mente de quase todo mundo. Mas, segundo especialistas, não há resposta concreta ou receita de bolo certa para ser feliz.
Nesta segunda-feira (20) é celebrado o Dia Internacional da Felicidade. Na Universidade de Brasília (UnB), existe até uma disciplina sobre “Felicidade”. Wander Pereira, professor e pesquisador do assunto, alerta que a constante busca por “algo que é a felicidade” pode ser ruim e danosa.
Para o especialista, a felicidade é um empreendimento coletivo. “É uma experiência coletiva porque ela surge da necessidade de trabalhar e viver juntos, o ser humano desenvolveu essa necessidade na história evolutiva”, diz ele.
“Felicidade é encontrar coisas que estejam presentes na sua vida e isso passa muito pelas construções sociais, pelas redes que a gente faz, pelos relacionamento que a gente tem ao longo da vida”, diz o professor.
Não que seja impossível ser feliz sozinho, aponta o pesquisador. Ele lembra que existem pessoas que vivem sozinhas, isoladas de uma sociedade, mas, em experiências anteriores, elas aprenderam e desenvolveram características de preservação e construção da felicidade, que dão condições de viver sozinha e ser feliz. É a chamada solitude, uma escolha de estar só.
Para Wander Pereira, o importante não é ter “um manual de instrução”, mas sim encontrar condições que fazem você se sentir feliz.
Felicidade tóxica
Estudantes da disciplina ‘felicidade’, na UnB, em imagem de arquivo — Foto: TV Globo/Reprodução
O professor Walder Pereira alerta também para a chamada “felicidade tóxica” propagada nas redes sociais. Para o especialista, esse é um dos males do mundo atual.
“Embora as redes sociais não criem essa condição da felicidade tóxica, elas são ferramentas que facilitam a difusão dessa ideia de que as pessoas têm que ser obrigatoriamente felizes e têm que exibir o tempo inteiro os sinais externos de felicidade. Essa obrigação acaba levando ao próprio adoecimento”, diz o especialista.
Segundo Pereira, é necessário que os sentimentos, positivos e negativos, sejam abraçados. “São condições humanas, sentimentais e afetivas”, aponta. Para ele, o segredo é entender os sentimentos e agregar.
“Você vê que as experiências positivas nos dão alegria, nos dão satisfação. Elas não são fixas. Elas vêm, a gente vive ,e elas vão embora e a gente tem que lidar com isso”, explica.
O professor lembra que temos a tendência de perceber as coisas negativas como ameaçadoras e , muitas vezes, permanecemos com elas.
Felicidade como formulador de políticas públicas
O Dia Internacional da Felicidade foi criado pela ONU em 2012 para propor uma reflexão sobre como é avaliada a qualidade do crescimento de um país. O principal indicador é o Produto Interno Bruto (PIB).
Desde 2016, o Brasil perdeu posições no ranking do relatório da ONU, passando de 16º para 38º em 2022.
O especialista Wander Pereira explica que a felicidade não é só questão de saúde mental, mas uma questão importante a ser considerada como formulador de políticas públicas. Países com IDH mais baixos, são países mais infelizes no ranking de felicidade.
“É importantíssimo falar de felicidade nos dias atuais, mas falar de maneira séria. Tratar isso como uma condição importante para a realização do ser humano”, explica Pereira.
“Todo ser humano tem direito a vida, mas deveria se dizer também que todo ser humano tem direito a uma vida feliz e que não deveria ter alternativa fora disso. A vida é para ser vivida com felicidade”, completa.
Felicidade e saúde mental
A psicóloga Bruna Capozzi explica que a felicidade é um sentimento em que as emoções são percebidas e acolhidas, as relações sociais e profissionais são compreendidas e valorizadas.
“Nesse sentido, a auto percepção, a consciência dos seus processos internos e o autocuidado se tornam ferramentas essenciais para se chegar a essa condição de pessoa feliz e satisfeita com a vida”, diz Capozzi.
A especialista destaca três pontos que podem ajudar no cuidado com a saúde mental:
- Esteja atento às suas emoções: Não existem emoções boas ou ruins, as emoções fazem parte de uma resposta do organismos frente a um estímulo. A habilidade de perceber as emoções presentes faz com que o indivíduo crie estratégias para lidar com as emoções e as situações que a despertam de forma assertiva.
- Seja grato pelas coisas que acontecem no seu dia: Quantas coisas acontecem em 24 horas? Muitas! Então, passe a observar quais situações, experiências, diálogos, encontros positivos aconteceram no seu dia.
- Traga movimento para a sua vida: A prática de exercícios físicos tem potencial para transformar o organismo de forma positiva. A meditação também favorece os processos neurais e promove bem-estar e satisfação no dia a dia. Movimento é saúde, tanto física quanto mental.