Como não ser um babaca’: 2ª edição de guia traz dicas práticas para evitar desrespeito de gênero

Publicação é uma iniciativa do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e Tribunal de Contas da União (Sindilegis). Ao g1, responsável pelo projeto explica como livro pode tornar relações mais respeitosas no trabalho e na vida pessoal.

Por Bruna Yamaguti, g1 DF


Homem lê livro "Como não ser um babaca", do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e Tribunal de Contas da União (Sindilegis) — Foto: Divulgação

Homem lê livro “Como não ser um babaca”, do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e Tribunal de Contas da União (Sindilegis) — Foto: Divulgação

A segunda edição do livro “Como não ser um babaca”, disponível de forma gratuita no mês de março tanto na versão on-line quanto na física (veja detalhes mais abaixo), traz dicas práticas para que homens abandonem atitudes machistas e tratem as mulheres com equidade e respeito.

A publicação, escrita por Marcela Studart, é uma iniciativa do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e Tribunal de Contas da União (Sindilegis).

Ao g1, a diretora de comunicação social do sindicato e principal responsável pelo projeto, Elisa Bruno, explica como o guia pode ajudar a tornar as relações entre homens com mulheres mais respeitosas. Ela também diz de que forma mulheres podem se posicionar, no dia a dia do trabalho ou da vida pessoal, ao se depararem com tratamentos inadequados.

Elisa falou sobre os seguintes tópicos:

  1. Como ajudar a combater a violência contra mulheres
  2. Comodismo da sociedade com o machismo
  3. A importância de se posicionar
  4. Mulheres no mercado de trabalho e na política

Leia a entrevista

g1 – Como surgiu a ideia de criar o guia? Qual o objetivo principal da publicação?

Elisa Bruno – Combater a violência contra mulheres é um tema que ganha força todos os dias. Essa é uma pauta muito próxima do Sindilegis porque representamos milhares de servidoras nas três Casas legislativas. A ideia de criar um guia que orienta os homens a “como não ser machista” surgiu durante uma reunião em que tivemos acesso a depoimentos de filiadas que sofrem ou sofreram algum tipo de assédio, moral ou sexual.

“Não esperamos mudar o mundo ou acabar com o machismo do dia para a noite. Temos plena consciência de que essa é uma estrutura muito antiga para ser desfeita tão rapidamente, mas esperamos contribuir na mudança de mentalidade daqueles homens que estão dispostos a mudar seu comportamento por causa de algum toque de amigo, ou problema enfrentado por conta do machismo. Para além disso, esperamos empoderar mulheres com um discurso combativo e argumentativo para responder coisas que já cansamos de ouvir.”

Prefácio do livro "Como não ser um babaca", escrito pela jornalista Astrid Fontenelle  — Foto: Divulgação

Prefácio do livro “Como não ser um babaca”, escrito pela jornalista Astrid Fontenelle — Foto: Divulgação

g1 – Por que, mesmo com tanta discussão hoje em dia, ainda há comportamentos e falas machistas contra mulheres?

Elisa Bruno – Acreditamos que, assim como outras formas de opressão, tal qual o racismo, o machismo e a misoginia, estão enraizados na nossa sociedade. E também há o comodismo quando você é protegido por uma bolha de privilégio, o que geralmente acontece com homens brancos héteros e cisgêneros.

Machismo no trabalho

g1 – No ambiente de trabalho, como o machismo pode ser combatido, tendo em vista que muitas mulheres sentem medo de se posicionarem e acabarem sendo prejudicadas em suas carreiras?

Elisa Bruno – Posicionamento é fundamental para combater o machismo e a violência de gênero. E é preciso que todos se posicionem: não só as mulheres que sofrem a violência, mas também homens que assistem passivamente enquanto seus semelhantes praticam alguma forma de misoginia. Outro posicionamento fundamental é o das empresas e organizações, que precisam assumir seu papel e responsabilidade social.

Não se enganem, o neutro é masculino. Quando alguém se levanta e se dispõe a questionar esses padrões tóxicos de comportamento, provoca-se uma reflexão em cadeia sobre a necessidade de mudança.”

g1 – Vocês acham que as ações para promover a igualdade de gênero, sobretudo no mercado de trabalho, têm sido efetivas?

Elisa Bruno – Muitas dessas políticas e ações são recentes e não atingiram todo o potencial que possuem para a melhor inserção de mais mulheres no mercado. De qualquer maneira, é importante que tais ações sejam guiadas por alguns pilares: recrutamento, desenvolvimento e segurança psicológica.

“Desde o processo seletivo, passando pela capacitação, até a oferta de um ambiente seguro e livre de ameaças de assédio, as profissionais se sentirão mais protegidas para denunciar qualquer situação desconfortável.”

Mulheres na política

g1 – Na política, mulheres têm buscado disputar mais cargos e ocupar mais espaços de liderança. De que forma isso ainda pode ser melhorado?

Elisa Bruno – Ainda vemos pouca representatividade feminina nos cargos mais altos do poder público e até mesmo na iniciativa privada. Precisamos de políticas públicas e de afirmação tanto para capacitar e incentivar uma maior participação de mulheres nesses cargos, como para combater a mentalidade de que nós não podemos ocupar esses espaços. Ou pior: a mentalidade de até ser capaz de ocupar tais cargos, mas recebendo menos do que os colegas homens.

Afinal, como não ser um babaca?

Elisa Bruno – Para não ser um babaca é preciso exercitar a empatia. Ninguém quer ser assediado, ameaçado ou perseguido. Com a empatia bem treinada, um homem consegue identificar quais dos seus comportamentos não estão adequados com o contexto que vivemos.

“E educação, claro. Acessar pesquisas, dados e entender que o gênero, biológico ou de identificação, não interfere na performance de um trabalhador.”

Como baixar o guia de forma gratuita

Durante todo o mês de março, por causa do Dia Internacional da Mulher, o e-book está disponível para download gratuito e a versão impressa também pode ser adquirida na internet.

Empresas e organizações interessadas em abordar a temática também podem ter acesso ao arquivo aberto do guia e inserir sua marca, desde que creditem o Sindilegis.

Além disso, neste ano, por meio da plataforma www.naosejaumbabaca.com.br, é possível indicar e compartilhar o livro de forma anônima, seja para colegas de trabalho, parentes ou conhecidos. O indicado receberá por e-mail o seguinte recado: “Oi, tem alguém querendo te dar um toque. Talvez você nem se dê conta, mas tem gente que não está curtindo algumas coisas que você fala e quer te ajudar.”

Um dos capítulos do livro cita a fala recente que aconteceu no reality show Big Brother Brasil 2023. “Já, já, vai tomar umas cotoveladas na boca”, disse o participante Gabriel Fop a Bruna Griphao. Após ser eliminado do reality, Gabriel afirmou sentir vergonha de suas falas e disse querer “servir de exemplo a não ser seguido”.

Outra frase citada pelo guia “Como não ser um babaca” foi a proferida em 2014 pelo então deputado Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República. “Ela não merece ser estuprada porque ela é muito feia. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque não merece”, disse Bolsonaro, se referindo à deputada Maria do Rosário (PT-RS).

“Ano após ano, as mulheres continuam a ser vítimas de comportamentos e comentários machistas, seja em rede nacional, seja no Congresso, em consultórios ou reuniões de empresas. […] O guia funciona como uma ação educativa efetiva para promover a diversidade e, mais ainda, sensibilizar sobre a temática do machismo”, pontua Elisa Bruno.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *