Setor hoteleiro aquecido com a procura por hospedagens no DF durante a posse
Rede hoteleira terá alta ocupação no fim do ano em virtude da posse presidencial, que será acompanhada por brasileiros e estrangeiros. Moradores de Brasília também abrirão suas casas para receber pessoas de várias localidades
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Normalmente, a virada do ano é uma das ocasiões em que o brasiliense tende a se recolher ou viajar. No entanto, a cada quatro anos, no réveillon, a cidade recebe pessoas do Brasil e do mundo que vêm para prestigiar a posse presidencial. Desta vez, não será diferente: a transição de presidentes da República deve atrair militantes de todos os cantos do país, além de chefes de Estado e suas comitivas internacionais. Para a ocasião atual, o Correio apurou que o número já se revela bem mais elevado que na posse anterior.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Henrique Severien, a expectativa do setor é que os empreendimentos filiados à associação e localizados na região central de Brasília fechem o ano com ocupação acima de 80%. Ao todo, são 8.500 unidades habitacionais. “Em anos normais, o réveillon não é capaz de trazer público para Brasília. No período, as ocupações mal chegam a 50%”, afirmou. O dirigente do órgão explicou, ainda, que para receber chefes de Estado e suas delegações, o Itamaraty e algumas embaixadas realizam visitas a vários hotéis para validar os critérios necessários para hospedar as autoridades estrangeiras. “Questões de segurança, equipamentos de monitoramento, combate a incêndio, entradas alternativas e condições de evacuação em caso de emergência são exemplos de critérios avaliados”, explicou.
O Correio apurou que alguns estabelecimentos estão 100% reservados. As 803 unidades habitacionais dos cinco hotéis da rede H Plus estarão ocupadas nos dias 31 de dezembro de 2022 e 1º de janeiro de 2023. Em 2021/22, o grupo fechou a virada do ano com 75% de ocupação, e 2019/20, com 83% e em 2018/19, quando ocorreu a última solenidade de transição presidencial, com 89%. Já os três hotéis da rede Meliá Brasil 21 somam 547 suítes, que também estão totalmente reservadas para a data política. Segundo o grupo informou, o réveillon de 2020 para 2021 gerou 55% de ocupação nos empreendimentos, ante 45% em 2018/2019, ano da última posse, e apenas 29% em 2019/20.
Reservas
O servidor público paulistano Paulo Aluizio Simas, 38, é um dos que se hospedarão em um dos hotéis da cidade. Confiante na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele efetivou a reserva em junho deste ano e conseguiu uma promoção on-line, com direito a cancelamento grátis. “Eu e minha amiga pagamos R$ 1.600,00 por três diárias. Há alguns dias, checamos e vimos que o preço para quem quisesse reservar no mesmo hotel nessas datas tinha subido para R$ 2.500 e, no dia de hoje, não tem mais nenhuma disponibilidade de vaga”, contou. As passagens aéreas, entretanto, foram compradas em novembro, após as eleições, e, por isso, já estavam com preços elevados. Ainda assim, Paulo conseguiu uma diferença de R$ 500 no trecho de São Paulo a Brasília, para o dia anterior à reserva. “Para desembarcar na capital na véspera da entrada no hotel, precisei me juntar, por uma noite, ao grupo que um amigo vai receber em sua casa”, explicou.
Júlia Parucker, 38, orientadora parental, do Rio de Janeiro, esteve em Brasília na primeira posse do presidente Lula, em 2003. Neste ano, ela voltará para vê-lo subir a rampa do Palácio do Planalto pela terceira vez. Agora, Júlia virá acompanhada do marido, Lucas Quintana, 35, fotógrafo, e do filho Martin, de dois anos. “Acho mais barato do que ficar em hotel. Além disso, prefiro ficar nas quadras residenciais do Plano Piloto. Como tenho filho pequeno, gosto de estar perto de praças e parques”, disse a carioca, que ficará hospedada em um apartamento alugado por meio da plataforma AirBnb. Ela conta que chegou a sondar com conhecidos que moram na cidade se alguém viajaria e teria interesse em alugar a própria casa. “Percebi que muita gente desistiu de viajar para ficar em Brasília e estar presente na posse”, concluiu.
De portas abertas
Há quem fique em Brasília, mas sairá de casa. Por sugestão de uma amiga e com o intuito de começar o ano com um dinheiro extra, a autônoma Aparecida Fonseca, 53, vai alugar o imóvel onde mora para um grupo de cinco pessoas que virá para a posse. “É a primeira vez que faço isso. Ficarei hospedada na casa de amigos enquanto alugo a minha. Nem precisei anunciar. Uma amiga ofereceu o meu contato para um grupo que estava à procura de lugar para ficar”, disse ela.
A advogada Carmen Helena Dreyer, que completa 70 anos no dia 31 de dezembro, resolveu se dar de presente uma viagem para Brasília para assistir a solenidade presidencial. Ela mora em Porto Alegre e passará o aniversário longe da família pela primeira vez, hospedada na casa de um amigo, no Lago Norte. “Minha família está feliz que eu vou. Eu quero representar, principalmente, os meus netos. Quero que eles contem para os filhos deles que a vó estava lá nesse momento histórico”, declarou.
Janaína Aguillera, 43, relações públicas, faz parte de um esquema de hospitalidade comum em época de grandes eventos políticos: a hospedagem solidária. Movimentos sociais se organizam para colocar pessoas interessadas em abrir suas casas em contato com outras que estão à procura de abrigo e ela abrirá o apartamento, na Asa Norte, onde mora com o marido e duas filhas, para receber pessoas de outras localidades. “Faço isso há muito tempo. Na minha sala, cabem até 14 pessoas acomodadas em colchonetes. É como se fosse um acampamento”, explicou ela, lembrando que já fez o movimento inverso. “Em 2003, eu morava em Porto Alegre e vim com uma excursão de 42 pessoas”, contou.
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