Saiba quem são os auditores do DF Legal presos por corrupção
Investigação apontou que os auditores recebiam ou cobravam vantagens indevidas para não fiscalizar determinados imóveis e pessoas
Um dos auditores do DF Legal preso na manhã dessa sexta-feira (20/5), pela Delegacia de Repressão à Corrupção (DRCOR), é velho conhecido da polícia. Paulo José da Silva, de 62 anos, é suspeito de fazer parte de suposto grupo criminoso que teria fraudado a fiscalização de terrenos e imóveis do Distrito Federal.
Atualmente aposentado do órgão de controle, Paulo já havia sido preso temporariamente em 2017, suspeito de integrar um outro grupo que atuava na invasão de terrenos públicos valiosos, de 20 mil m², localizados no Setor de Mansões Park Way. Cada lote era avaliado em torno de R$ 3,8 milhões.
À época, no âmbito de investigação conduzida pela Delegacia Especial de Proteção ao Meio Ambiente e à Ordem Urbanística (Dema), Paulo foi preso por tentar evitar o trabalho de fiscalização na área. Ele solicitava dinheiro e, em troca, fornecia informações sobre as operações.
Veja fotos dos auditores:
Paulo José da Silva é um dos auditores presos
Material obtido pelo Metrópoles
Já Paulo Furtado Alvarenga Júnior, de 58, é o servidor preso em flagrante com um arsenal de 18 armas de fogo e munições em sua residência, em Taguatinga. Paulo alegou ser colecionador e atirador, mas não conseguiu comprovar a origem e posse dos objetos.
A DRCOR investiga se o arsenal era usado para grilagem de terras. “Esse auditor que foi preso em flagrante por não possuir o registro das armas de fogo informou que, a princípio, seria colecionador e atirador. No entanto, estamos investigando a possível conexão do uso dessas armas para invasão de terras, uma possível conexão com a grilagem de terrenos. Mas precisamos aprofundar um pouco melhor”, disse o delegado que conduziu as investigações, Gabriel Oliveira Eduardo.
Confira fotos do arsenal:
Arsenal foi encontrado na casa de um dos suspeitos
Marcus Rodrigues/Metrópoles0
Grupo de mensagens
Os auditores também mantinham um grupo de mensagens, onde, sob cobrança, avisavam antecipadamente sobre as operações fiscalizatórias do DF Legal. Somente em um dos casos, R$ 300 mil foi cobrado.
“A gente conseguiu apurar a existência de um grupo de aplicativo de mensagens, onde os participantes efetuavam pagamentos semanais para permanecerem e receberem informações sobre operações de fiscalização que ocorreriam nos dias seguintes”, revela o delegado.
“Eles recebiam essas informações de forma antecipada para poderem se precaver e não serem pegos nas irregularidades”, complementa.
Operação
Segundo a PCDF, após receber denúncias anônimas, a corporação identificou diversas provas que indicam que os investigados receberiam ou cobrariam vantagens indevidas para não fiscalizar determinados imóveis e pessoas; emitir indevidamente autorizações diversas, como alvarás de construção e cartas de Habite-se; reduzir ou extinguir, ilicitamente, débitos e taxas; cancelar, irregularmente, autos de infrações, embargos e interdições; repassar informações sigilosas sobre data e local de ações fiscalizatórias; entre outros.
“Clientes”
Foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão em diversas regiões do Distrito Federal, assim como em Alexânia (GO), no Entorno, e Goiânia (GO). Também foram cumpridos três mandados de prisão temporária, expedidos em desfavor do núcleo principal de investigados, composto pelos dois auditores fiscais e uma terceira pessoa, responsável por captar “clientes” e fazer a intermediação das negociações com os servidores públicos, enquanto estes, de fato, executavam as ilegalidades. Os “clientes” identificados até o momento também foram alvo de buscas.
Os suspeitos podem responder pelos crimes de associação criminosa, concussão, corrupção, entre outros que devem ser apurados minuciosamente. Somadas, as penas podem chegar a 27 anos de prisão.
A Secretaria da DF legal colaborou com a Polícia Civil durante as diligências.
Ludíbrio
A Operação Ludíbrio, da qual participaram 100 policiais, foi assim batizada em razão do termo ser sinônimo de “engano” e de “burla”, já que ficou constatado que os investigados, de má-fé, ludibriam as ações fiscalizatórias estatais.
O outro lado
Em nota, a secretaria DF Legal informou “que cooperou desde o primeiro momento com todas as informações”. Acrescentou que “não coaduna com nenhum tipo de irregularidade e é pautada pela transparência e honestidade de seu trabalho para a população do Distrito Federal”.
A pasta destacou que um processo foi instaurado na Corregedoria para apurar os fatos no âmbito administrativo.