Brasília é atacada por atos extremistas cometidos por bolsonaristas

Em protesto contra a prisão de ativista acusado de promover atos antidemocráticos, manifestantes ateiam fogo em ônibus, carros e tentam invadir o prédio da Polícia Federal. Autoridades prometem punir responsáveis pelas cenas de vandalismo

Em questão de horas, a capital do país passou por duas situações extremas. No início da tarde, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva foi oficialmente reconhecido pela Justiça Eleitoral como o vencedor das eleições gerais definidas em 30 de outubro. Durante a solenidade, tanto o presidente Lula quanto o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, exaltaram a força da democracia brasileira. No início da noite, porém, a civilidade deu lugar à baderna.

Por volta das 20h30, o centro da capital se tornou alvo de atos terroristas. Em protesto contra a prisão de um ativista acusado de promover atos antidemocráticos, extremistas tentaram invadir a sede da Polícia Federal na área central de Brasília. Fizeram mais: atearam fogo em ônibus e carros que estavam na região. Em um dos locais, um carro foi incendiado ao lado de um posto de gasolina, em altíssimo risco de uma explosão.

Até o fechamento desta edição, não havia informações precisas sobre o número de presos, ou os danos causados pelos vândalos. Segundo informações das autoridades de segurança, a arruaça começou após a prisão do cacique José Acácio Serere Xavante. Ele se tornou conhecido por liderar indígenas bolsonaristas em atos em espaços públicos como o Park Shopping. Serere foi preso ontem, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A prisão foi pedida pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que entendeu que a detenção do indígena é uma forma de garantir a ordem pública.

Segundo o entendimento da PGR, o cacique se utiliza da posição de líder indígena do Povo Xavante para levar os seguidores a ameaçar o presidente eleito Lula, além dos ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. “A manifestação, em tese, criminosa e antidemocrática, revestiu-se do claro intuito de instigar a população a tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo a posse do presidente e do vice-presidente da República eleitos”, alegou a PGR no documento de petição.

No despacho que determinou a psião de Serere Xavante, o ministro Alexandre de Moraes foi categórico. “A restrição da liberdade do investigado, com a decretação da prisão temporária, é a única medida capaz de garantir a higidez da investigação”, escreveu.

Ao cumprir o mandado de prisão expedido pelo presidente do TSE, a Polícia Federal provocou a fúria de manifestantes. Muitos deles vestidos com o uniforme da Seleção e cobertos com a bandeira nacional, os extremistas tentaram invadir a sede da PF, no início da Asa Norte. Também destruíram carros e ônibus localizados na região central de Brasília.

Para conter os atos violentos, soldados do batalhão de choque da Polícia Militar do Distrito Federal usaram bombas de lacrimogêneo. Em determinado momento, as forças de segurança foram acionadas para impedir o avanço dos extremistas em direção ao hotel onde estão hospedados o presidente e o vice-presidente eleitos, nas proximidades dos confrontos.

A segurança ao redor do hotel onde estão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) foi reforçada para evitar ataques de manifestantes bolsonaristas. A equipe do petista cogitou retirar Lula e Alckmin do local de helicóptero, mas desistiu. Em determinado momento, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) deu um relato da situação. “Atualizando as informações: o perímetro onde está o Presidente Lula e o vice-presidente Alckmin já foi isolado e está sob proteção da PM e da PF. Neste momento não há risco à integridade física do Presidente, do Vice e da delegação. Reforço: ninguém sairá impune!”, escreveu em uma rede social.

Atos desafiam autoridades de segurança

Os atos praticados pelos extremistas puseram à prova a competência das forças de segurança no Distrito Federal. Nas últimas semanas, a secretaria de Segurança do DF anunciou que colocaria em prática um esquema para garantir a ordem na capital da República durante a diplomação, bem como a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, marcada para 1º de janeiro. As cenas de ontem, com depredação de patrimônio público e privado, mostraram, no entanto, que a estratégia precisa ser revista.

Se a PMDF demorou cerca de duas horas para controlar o vandalismo extremista no centro de Brasília, mais modorrenta foi a reação do Ministério da Justiça, pasta a que está subordinada a Polícia Federal. Segundo informou a CNN Brasil, o titular da pasta, Anderson Torres, jantava em um restaurante da cidade no momento em que bombas e explosões ocorriam nas proximidades do prédio da PF. Torres só foi se pronunciar por volta de 23h, em uma mensagem curta nas redes sociais. Disse que a pasta mantinha contato frequente com o Governo do Distrito Federal e decretou: “Tudo será apurado e esclarecido. Situação normalizando no momento”.

Sucessor de Anderson Torres na Esplanada, o futuro ministro da Justiça foi mais veemente. “Inaceitáveis a depredação e a tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal em Brasília”, escreveu. “Ordens judiciais devem ser cumpridas pela Polícia Federal. Os que se considerarem prejudicados devem oferecer os recursos cabíveis, jamais praticar violência política”, escreveu Flávio Dino.

Por volta de 23h40, autoridades de segurança concederam entrevista coletiva no Centro Cultural Banco do Brasil. Aos jornalistas, o ministro indicado Flávio Dino, o futuro diretor-geral da Polícia Federal e chefe da segurança de Lula, Andrei Rodrigues, e o secretário de Segurança do DF, Júlio Danilo, ressaltaram o trabalho conjunto para garantir a segurança do presidente eleito. E garantiram que as cenas de baderna e extremismo no centro da capital federal não ficarão impunes.

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