Mal sinalizadas e sem manutenção, faixas de pedestre oferecem riscos no DF

O aumento no número de acidentes fatais nas faixas de pedestres acendeu o alerta vermelho. Especialistas chamam a atenção para a necessidade de melhorar as sinalizações e realizar, principalmente, campanhas educativas

Os recentes casos envolvendo atropelamentos de pedestre acenderam um alerta vermelho na capital do país. Segundo dados estatísticos do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), até agosto deste ano foram registrados 60 acidentes fatais nas vias da capital do país. O Correio apurou mais 4 ocorrências com duas mortes nos últimos dois meses. As estatísticas de pessoas que perdem a vida ao atravessar vias chamam a atenção do órgão fiscalizador. Em 2021 foram, em média seis óbitos por mês, enquanto neste ano, até outubro, somaram 6,3 a cada 30 dias.

Um desses casos é o de Sandra Souza Freire, 33 anos, e Heloísa Souza Freire, 3. Mãe e filha morreram há uma semana, depois de serem atropeladas por um motociclista, enquanto atravessavam uma faixa de pedestre, em Planaltina. A morte precoce das duas ainda deixa rastros de tristeza para quem as conhecia. Rafaela Rocha, 33, era amiga da família há quase uma década. No dia da tragédia, ambas se encontraram no dentista — que ficava próximo ao local do acidente — e conversaram por pouco mais de 10 minutos, como relata a colega da família.

“Estávamos conversando na recepção. As meninas brincaram, e até disse para a Lolo (Heloísa) que a roupa dela estava linda. Elas estavam normais, sempre sorridentes”, relembra. Em seguida, Sandra e a filha foram embora, enquanto Rafaela continuou no dentista. Cerca de 20 minutos depois, a moradora do Jardim Roriz fez o mesmo trajeto das vítimas e encontrou um movimento de pessoas muito grande próximo a faixa de pedestre.

Ao saber da descrição das vítimas estendidas no chão Rafaela foi até os policiais para confirmar se as mortes eram mesmo das duas. “Pedi para ver, mas não deixaram. Mas, de repente, o vento soprou e vi que era a Sandra”, conta. Ontem, depois de uma semana, Rafaela lamenta a perda da amiga e diz que busca se confortar ao lado dos familiares das vítimas. 

Preocupação

De acordo com o porta-voz do Detran, Glauber Peixoto, para evitar futuras tragédias, diversos trabalhos serão intensificados pela autarquia. “Estamos fazendo pinturas, lavagem das faixas de pedestres e mapeamento desses locais que precisam passar por uma manutenção”, descreve. Além disso, Glauber também alerta para a necessidade de sinalização de placas transversais com boa visibilidade para que os condutores saibam da presença de faixas nas vias.

Segundo o Detran, outro motivo determinante são as ações humanas, que são quase sempre diretamente responsáveis pelas fatalidades no trânsito. Uso de celular, excesso de velocidade e até o não uso da faixa de pedestre, mesmo quando há possibilidade de usá-la. Por isso, na avaliação de Glauber, é importante que haja o respeito mútuo entre todos os componentes dos modais viários.

Glauber Peixoto enfatiza a necessidade constante de trabalhos educativos com pedestres e motoristas que, de acordo com ele, estão sempre entre os planejamento de ações do Detran. As infrações aplicadas e a rigidez na fiscalização de motoristas com histórico de transgressões também são necessárias, na opinião de Glauber. “O Detran faz o mapeamento de locais com grande circulação de pedestres, lugares onde temos a atenção redobrada. Mas, infelizmente, temos algumas limitações. O que precisamos é fazer um acompanhamento desse motorista (com histórico). Nosso trabalho é dentro da legalidade, e do que é imposto pela lei”, complementa.

Fatores a serem vistos

A segurança no trânsito está atrelada a muitos fatores. Vias adequadas, boa pavimentação e sinalização. Dentro dessa conjuntura, Artur Morais, especialista em trânsito, une tais condições, também, ao que para ele é uma das principais ausências atuais: a falta de comunicação com a sociedade. “Falta muita campanha para informar sobre fiscalização. Há 25 anos tínhamos campanhas envolvendo meios de comunicação, órgãos do governo e a população”, lembra.

Na ótica do especialista, tudo isso se perdeu com o tempo, mas “precisa voltar”, ressalta. Para Artur, é necessário trazer o povo de volta, e mantê-lo informado sobre as estruturas das vias e das sinalizações de todos os locais. Por isso, segundo ele, é essencial que placas estejam visíveis e faixas de pedestres revitalizadas, para que os atores do trânsito consigam adquirir mais segurança e conforto no cotidiano.

Na avaliação de Artur, o motorista é o personagem mais forte do modal viário. É necessário que ele saiba proteger aqueles que são mais fracos, como o especialista explica. “O condutor tem a obrigação de zelar pelo ciclista, motociclista e pedestre. Uma sociedade decente é aquela em que o mais forte protege o vulnerável. Ele deve respeitar a sinalização, não exceder a velocidade e não utilizar smartphone ou coisas que desviem a sua atenção”, orienta.

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