Advogado que atropelou mulher em briga de trânsito no DF diz ‘que não viu’ que tinha passado por cima da vítima

Durante interrogatório, Paulo Milhomem chorou e negou ter atropelado Tatiana Matsunaga de propósito. Caso foi em agosto de 2021, no Lago Sul; mulher tem sequelas como amnésia e perda da visão.Por Michele Mendes, Raphaela Sconetto e Mara Puljiz, TV Globo e g1 DF
Advogado Paulo Milhomem, acusado de atropelar mulher no Lago Sul, chora durante interrogatório e diz que pensou ter batido em meio fioAdvogado Paulo Milhomem, acusado de atropelar mulher no Lago Sul, chora durante interrogatório e diz que pensou ter batido em meio fio
O advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem, acusado de atropelar, de propósito, a servidora pública Tatiana Fernandes Machado Matsunaga, após uma briga de trânsito, no Distrito Federal, em agosto de 2021, afirmou, nesta quarta-feira (30) que “não viu” que tinha passado por cima da vítima. Ele foi ouvido durante a primeira audiência do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) sobre o caso (veja vídeo acima).
“Só senti uma batida no carro. Jamais imaginei que eu teria passado por cima dela, eu passei por cima do meio fio. Pra mim a colisão tinha sido lateral”, disse Milhomem.
A audiência deveria definir se o advogado vai ou não a júri popular, no entanto, o juiz adiou a decisão (saiba mais abaixo). O atropelamento, que ocorreu após o advogado perseguir Tatiana até a frente da casa dela, foi gravado por câmeras de segurança da QI 19 do Lago Sul.
As imagens mostram que o réu avançou, de carro, e atropelou Tatiana (veja vídeo abaixo). Durante o interrogatório, Paulo Milhomem disse que arrancou com o carro porque achou que o marido de Tatiana estivesse “armado”. Cláudio Matsunaga, negou a acusação.
“Em momento algum houve ameaça a essa pessoa. A única coisa que eu perguntei foi: você é louco? Vem perseguindo uma pessoa até a porta de casa? Meu filho tinha 8 anos. Ele saiu em pânico completo. É uma situação que ninguém consegue conceber o grau de trauma disso”.
O juiz Frederico Ernesto Cardoso, do Tribunal do Júri, deu prazo de cinco dias para que o Instituto de Criminalística da Polícia Civil do DF envie um laudo atestando a veracidade dos vídeos do atropelamento. As partes terão, então, mais cinco dias para fazer as alegações finais. Só depois disso, o juiz vai decidir se Paulo Milhomem será submetido a júri popular.
Ao final da audiência, Paulo Milhomem chorou. “Gostaria de pedir desculpas a família da vítima. Estou muito … estou muito triste com a situação. Eu jamais quis causar qualquer problema para a senhora Tatiane. Foi uma situação que saiu do controle”, disse.
Vítima teve sequelas neurológicas
Tatiana Matsunaga está com sequelas neurológicas. Por causa das condições de saúde, ela foi dispensada de depor nesta quarta-feira (30).
Relatórios médicos apontam perda de memória, além de delírios, alucinações visuais e perda de parte da visão de forma permanente e irreversível. Tatiana faz tratamento na Rede Sarah, para reabilitação neurológica.

No último relatório médico, de 23 de março, ao qual a TV Globo teve acesso, os médicos informaram que Tatiana aguarda uma cirurgia chamada “cranioplastia”, em razão de uma “extensa falha óssea” no crânio.
Os laudos mostram que a servidora pública está com “prejuízo em manter a atenção” e que, do ponto de vista funcional, Tatiana “caminha devagar, com passos curtos e utiliza cadeira de rodas para deslocamentos no cotidiano”.
O relatório do hospital indica ainda que Tatiana “necessita de assistência e de supervisão para as atividades de vida diária”, além de “apresentar dor, que limita sua qualidade de vida”
Conforme o documento, a servidora pública ainda desenvolveu “hemianopsia homônima esquerda”, ou seja, perda de parte da visão “de caráter permanente e irreversível”, com necessidade de ter “acompanhante para realizar suas atividades de vida diárias”.
Paulo Milhomem está preso desde agosto do ano passado. Ele ocupa uma cela especial no 19º Batalhão da PM, no Complexo Penitenciário da Papuda, em São Sebastião. A legislação brasileira prevê que ele tem direito a esse tipo de cela, por ser advogado.
Nesta quarta-feira (30), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Distrito Federal, informou que o advogado também será julgado pelo Tribunal de Ética da instituição, que vai decidir se ele perde ou não o direito de exercer a profissão. Esse julgamento, entretanto, ainda não tem data marcada.
No ano passado, Milhomem teve o registro profissional suspenso por 90 dias.


Relembre o caso


Tatiana é servidora pública da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento (Adasa). Após o atropelamento, ela sofreu traumatismo craniano e fraturas expostas na perna e no quadril, e chegou a ficar na UTI de um hospital particular.
Agora, ela se recupera em casa. No entanto, segundo a família, a mulher tem sequelas do acidente e “foi atropelada intencionalmente”.
O atropelamento ocorreu na frente da casa da vítima, na QL 19 do Lago Sul. De acordo com a Polícia Civil, Paulo Milhomem e Tatiana discutiram na rua, na altura da QI 15 e o advogado seguiu a mulher, até a casa dela.
Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que a Tatiana estacionou o carro. O advogado chegou logo depois (veja vídeo acima).
No vídeo é possível ver que os dois discutiram. De carro, Milhomem foi até o fim da rua, enquanto Tatiana descia do veículo dela.
Neste momento, o marido da servidora saiu de dentro de casa, para ver o que estava acontecendo, e a discussão recomeçou, entre os três. Em seguida, o advogado avançou, de carro, e atropelou Tatiana.
O marido dela saiu correndo em direção ao carro, mas voltou para socorrer a esposa. Segundo a família, o filho do casal, de oito anos, presenciou a cena.

Servidora Tatiana Matsunaga, atropelada após briga de trânsito no DF — Foto: Arquivo pessoal

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